Belo Horizonte brinda tradição e criatividade no Dia do Coquetel
- espaco horizonte
- há 19 horas
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De clássicos a criações autorais, bartenders locais unem técnica, ingredientes regionais e criatividade para transformar a bebida em expressão cultural.
O mês de maio é especial para os apaixonados por coquetelaria: no dia 13 de maio, é comemorado o Dia Mundial do Coquetel, enquanto no Brasil, o Dia Nacional do Coquetel é celebrado em 18 de maio. As duas datas homenageiam a sofisticação das misturas alcoólicas e o papel transformador que os coquetéis desempenham no cenário gastronômico contemporâneo.
A história do coquetel remonta ao ano de 1806, quando o termo “cocktail” apareceu pela primeira vez no jornal nova-iorquino The Balance and Columbian Repository. Na publicação, o termo foi definido como “uma bebida alcoólica estimulante, composta de destilados de qualquer tipo, açúcar, água e bitters”. Curiosamente, a origem do nome pode estar ligada à prática de amarrar os rabos dos cavalos mestiços para cima — imitando a cauda de um galo —, uma forma de diferenciá-los dos puro-sangue. Transposto para o universo da bebida, o “cocktail” seria, então, uma mistura, uma “adulteração” nobre.
O termo ganhou o mundo e chegou ao Brasil adaptado como “coquetel” — e, literalmente traduzido, também inspirou o nome de um dos ícones da coquetelaria nacional: o Rabo de Galo, mistura popular de cachaça e vermute. Hoje, os coquetéis representam muito mais do que uma bebida: são expressões de cultura, identidade e técnica refinada. Em Belo Horizonte, reconhecida pela Unesco como Cidade Criativa da Gastronomia, a cena da coquetelaria tem se desenvolvido a passos largos, unindo tradição, inovação e uma forte ligação com os ingredientes e a cultura local.
Segundo Adriano Dias, bartender e mixologista à frente do bar do Terraço Niê, do grupo Maché, os clássicos continuam sendo a espinha dorsal da coquetelaria. “Drinks como Negroni, Aperol Spritz e Fitzgerald estão sempre entre os mais pedidos. Toda inovação parte, obrigatoriamente, do domínio dessas bases”, explica. Para ele, BH vive um momento efervescente, com bartenders se especializando e conquistando reconhecimento em competições nacionais e internacionais, como o World Class e o Bacardi Legacy.
Lucas Mendes, também bartender do Terraço Niê, reforça que a valorização dos insumos locais é uma marca registrada da nova geração de bartenders mineiros. “Nossa biodiversidade é um tesouro. Jabuticaba, pequi, goiaba e até o queijo fazem parte das possibilidades criativas da coquetelaria mineira”, afirma. Lucas ganhou destaque ao criar, enquanto estava no bar Montê, um coquetel especial em homenagem aos 100 anos da Bala Lalka — um drink frutado e cítrico que combinava inovação com afetividade histórica.

Coquetéis e gastronomia: uma harmonização em ascensão
A harmonização entre coquetéis e gastronomia, tendência consolidada nas principais capitais do mundo, também vem ganhando força em Belo Horizonte. Um dos exemplos mais interessantes dessa evolução é o trabalho realizado no Rex Bibendi, onde a carta de drinks “Uma Carta ao Rei”, assinada pelo mixologista Xandão Loureiro, propõe criações que conversam diretamente com os sabores da cozinha da casa. Ali, os coquetéis são desenvolvidos não apenas para acompanhar, mas para amplificar a experiência gastronômica.
O Parágrafo 4, por exemplo — uma combinação de Barollo Braida, Triple Sec, vermute Punt e Mes e tônica —, traz uma estrutura aromática rica e um amargor sutil que harmoniza de maneira impecável com a mijadra com secreto de porco, equilibrando a untuosidade do prato com frescor e elegância. Já o Parágrafo 1, que mistura vermute Martini Riserva Speciale Ambrato, Single Malt Glenmorangie 10 anos, espumante Rex Bibendi Brut e alcaparrone em conserva de vermute dry, é a escolha perfeita para acompanhar o crepinete de porco com jiló defumado, reforçando os sabores terrosos e cítricos da preparação. O Parágrafo 5, feito com rum Havana 3 anos e soda botânica, harmoniza de forma leve e refrescante com pratos mais intensos como o arroz de pato, proporcionando contraste e suavidade a cada garfada.
“O drink certo complementa e realça os sabores do prato, sem nunca se sobrepor. É uma construção de camadas de sabor”, explica Xandão. Para ele, categorias como a dos sours, que equilibram cítrico, doçura e álcool, são especialmente indicadas para harmonizar com carnes gordurosas, enquanto coquetéis com notas terrosas ou defumadas conversam melhor com pratos intensos ou grelhados. Cada combinação é pensada para criar uma experiência sensorial completa, em que bebida e comida caminham juntas, elevando o paladar a novas possibilidades. Em Belo Horizonte, essa valorização da harmonização entre coquetéis e gastronomia mostra um amadurecimento da cena local — e confirma a cidade como um dos polos mais criativos do país também no universo líquido.
A excelência da coquetelaria mineira também passa pela trajetória profissional dos seus protagonistas. Normalmente, o caminho no bar começa na função de barback — responsável pela logística e suporte da operação. Com o domínio das técnicas, a evolução natural é tornar-se bartender, focado na execução e atendimento. Já o mixologista é aquele que pesquisa, cria cartas autorais e explora os aspectos sensoriais e históricos das misturas. “Cada carta de drinks conta uma história”, diz Xandão. “Usamos nossa bagagem sensorial e cultural para criar experiências que traduzam a identidade de cada casa. Criar um drink é tão técnico quanto poético.”
Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o Brasil viu crescer, nos últimos cinco anos, cerca de 15% ao ano o número de estabelecimentos que investem em mixologia como diferencial competitivo — tendência que se reflete também no aquecimento do mercado de cursos e especializações na área.
Neste 13 de maio, a celebração do Dia do Coquetel vai muito além do brinde: ela homenageia a dedicação dos profissionais que estudam, inovam e ajudam a construir uma cena cultural cada vez mais forte e criativa em Belo Horizonte. A seguir, confira uma seleção de coquetéis que fazem sucesso na cidade — verdadeiros ícones líquidos que contam, em cada taça, um pouco da história e da alma belo horizontina.

Cabernet Butiquim
Caso Velho
Whiskey Chivas 12 anos, Amaro Ramazzotti, Punt and mês, limão taiti e gengibre
Pedaço de Pecado
Gin Yvy Mar, frutas negras e limão siciliano
Montê Bar
LALKA – 100 anos
Vodka, aperol, xarope de bala Lalka®, limão siciliano e albumina. Tradicional e clássica bala de maçã (bala dura, vermelha, docinha e azedinha ao mesmo tempo).
CaramelinhoVodka smirnoff, Caramelo queimado e maracujá.
Terraço Niê
Espresso MartiniVodka, licor de café, café coado e xarope de caramelo salgado.
Noite em Ouro PretoGin cítrico, vermute martini, campari e San Basile Amaro
Coco Bambu
Aperol Spritz
Espumante, Aperol, soda limonada e laranja.
Fitzgerald
Gin Tanqueray, suco de limão siciliano, syrup, angostura bitters.
VASTO Restaurante
Le Frizz
Vodka, licor, Saint Germain, citrus, limão e flores.
Clover club
Granadine, xarope, açúcar, limão, claras de ovos e gin tanqueray.
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