MUSEU INIMÁ DE PAULA RECEBE A EXPOSIÇÃO CABOCLOS DA AMAZÔNIA: ARQUITETURA, DESIGN E MÚSICA
Mostra reúne, em mais de 300 peças, a rica atmosfera cultural vivenciada pelos caboclos que habitam a floresta, com destaque para o universo da arquitetura, do design e das expressões artísticas do Estado do Pará.
Com o patrocínio do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale, Alcantarino Design e o Museu Inimá de Paula realizam a exposição “Caboclos da Amazônia: arquitetura, design e música”, de 01 de fevereiro a 31 de março de 2024, na sede da instituição localizada na Rua da Bahia,1201, Centro, em Belo Horizonte.
A exposição faz sua estreia na capital mineira após uma temporada de sucesso em São Paulo. Concebida pelo designer paraense Carlos Alcantarino, a mostra celebra e ressalta a autêntica essência do rico universo da arquitetura, do design e das expressões artísticas do Estado do Pará.
Ao longo de suas incursões pelas comunidades da ilha de Marajó, incluindo Afuá, e da ilha do Combu, situada em Belém, Alcantarino documentou suas impressões da paisagem amazônica. Elementos do cotidiano, como a elevação das habitações para proteção contra as cheias das marés, a vibrante paleta de cores das casas, a música regional e as elaboradas inscrições nas embarcações, minuciosamente confeccionadas pelos talentosos artistas conhecidos como “abridores de letra”, coexistiam de maneira harmoniosa em seu cenário. Tais registros revelam conceitos originais, que desafiam as normas estéticas convencionais e capturam a rica atmosfera cultural vivenciada pelos caboclos que habitam a floresta.
A mostra apresenta uma coleção diversificada com mais de 300 peças, organizadas em quatro categorias distintas: Arquitetura e Interiores, Objetos, Letras e Música.
A seção de “Arquitetura e Interiores” exibe uma coleção de fotografias tiradas nas ilhas do Marajó e do Combu, enfatizando a arquitetura única das casas de ribeirinhos, pescadores e outros cenários da Amazônia. As paredes do Museu foram pintadas nas cores tradicionais dessas habitações, proporcionando uma representação fiel da autêntica arquitetura cabocla em toda sua dimensão.
A área dedicada aos “Objetos” apresenta instalações que incluem elementos da vida cotidiana dos caboclos, como o carrinho de raspa-raspa, garrafas com ervas do Mercado Ver-o-Peso, brinquedos feitos de miriti e as pipas que são empinadas nos céus de Belém.
Na seção dedicada às “Letras”, os visitantes terão a oportunidade de se familiarizar com os símbolos de comunicação do caboclo amazônico, com destaque para os "abridores de letras," que são os artistas responsáveis por pintar os nomes nas embarcações. As paredes servirão como suporte para exibir o trabalho de alguns desses artistas, cada um com seu estilo único.
No espaço dedicado à “Música”, a atmosfera evoca os bares à beira da estrada do interior amazônico, com destaque para a trilha sonora que inclui os ritmos de carimbó, guitarrada e festa de aparelhagem.
Para a realização da exposição, Carlos Alcantarino recebeu o apoio da designer gráfica Fernanda Martins, especializada em Tipografia e Design com foco na região amazônica, e que também coordena o projeto “Letras que Flutuam”.
PROGRAMAÇÃO DE ABERTURA DA EXPOSIÇÃO
Para a cerimônia de abertura de Caboclos da Amazônia em Belo Horizonte, agendada para o dia 01 de fevereiro, quinta-feira, às 18h, está prevista uma visita guiada à exposição com a presença de Carlos Alcantarino e Fernanda Martins. E às 19h, haverá uma performance com o abridor de letras Rosemiro de Oliveira Medeiros, vindo diretamente da cidade de Breves, no Pará.
SOBRE CARLOS ALCANTARINO
Nasceu em Belém do Pará, em 1958, e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1982 onde está baseado até o presente. Designer autodidata, possui graduação em engenharia civil com mestrado pela PUC - Rio. Em 1996 montou o Estúdio Alcantarino, especializado no desenvolvimento de móveis e objetos utilitários, projetos arquitetônicos e cenográficos e consultoria em design. Tem se destacado na área de design sustentável e socioambiental com seu projeto Experiência Design. Já participou de inúmeras exposições internacionais e ganhou os principais prêmios de design no Brasil e exterior.
SOBRE O INSTITUTO CULTURAL VALE
O Instituto Cultural Vale atua em museus e centros culturais, na preservação e valorização de patrimônios e no fomento às múltiplas manifestações artísticas, guiado pela visão de que a cultura é instrumento de transformação social, capaz de gerar impacto positivo na vida das pessoas e construir um legado para as futuras gerações.
A Vale atua há mais de três décadas na Amazônia pela sua preservação e pela salvaguarda de suas múltiplas manifestações artístico-culturais. Para nós, é especial estar ao lado de projetos como “Caboclos da Amazônia: Arquitetura, Design e Música” que, através de casas, objetos, móveis, imagens gráficas e um panorama musical regional, reverencia o rico universo do modo de viver da polução nativa amazônica e suas múltiplas identidades.
SOBRE O MUSEU INIMÁ DE PAULA
O Museu Inimá de Paula é resultado da materialização do esforço e dedicação de todos os envolvidos ao longo de sua história. Completados 15 anos de existência, se consolidou como um espaço de referência da arte e cultura a nível local e nacional. Levar a arte brasileira e internacional a um público amplo e oferecer múltiplas possibilidades de leituras através das exposições, de uma maneira convidativa e acessível, são os objetivos que têm guiado nossa atuação. A gestão do Museu Inimá de Paula compreende um rigoroso trabalho iniciado em 2006, a partir da assinatura do Contrato de Cessão do Imóvel pela Secretaria de Estado de Cultura e o então presidente da Fundação, Sr. Mauro Tunes Júnior. O projeto arquitetônico, de autoria de Saul Vilela, foi aprovado pelos órgãos governamentais e as obras iniciadas em janeiro de 2007. O imóvel nomeado como “Museu Inimá de Paula” foi restaurado e reformado e conta com uma estrutura de altíssima tecnologia para abrigar todo o acervo da Fundação, exposição permanente de obras de Inimá, exposições paralelas, espaço de café, cine-auditório com 130 lugares e uma programação especial voltada para a arte educação, atendendo escolas públicas, crianças e adultos. Desde sua inauguração em abril do ano de 2008, o Museu recebe incessantemente, inúmeras exposições e eventos culturais de diversas naturezas, tendo se tornado um bem cultural para todos os mineiros. Assim, para iniciar nosso calendário de exposições no ano de 2024, apresentamos a exposição “Caboclos da Amazônia” que pretende demonstrar o modo de vida das comunidades Ribeirinhas e a forma como esses povos reproduzem seu modo de vida, por meio da Arquitetura, Música e Design, pelo olhar do curador Carlos Alcantarino. A mostra, depois de ser apresentada nos estados do Pará e de São Paulo, chega ao Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte, reforçando o nosso compromisso de convidar o público a visualizar a potência da cultura brasileira e a importância desses povos e suas identidades.
SERVIÇO:
EXPOSIÇÃO CABOCLOS DA AMAZÔNIA – ARQUITETURA, DESIGN, MÚSICA
Abertura: 01 de fevereiro | quinta-feira | das 12h às 20h30
Período da exposição: 02 de fevereiro a 31 de março de 2024
MUSEU INIMÁ DE PAULA (Rua da Bahia, 1201, Centro - Belo Horizonte | MG)
Horários: terça, quarta, sexta e sábado, das 10h às 18h30 | quinta, de 12h às 20h30 | domingo, das 10h às 16h30
Entrada gratuita
Mais informações: (31) 3213-4320 ou pelo instagram @museuinimadepaula
Sobre a exposição: www.alcantarino.com | Instagram @caboclosdaamazonia
Link de imagens de divulgação: https://drive.google.com/drive/folders/11ZO4dAIlMpZ-3xkkYuTM6gtQPojoDAe4?usp=sharing
MATERIAIS COMPLEMENTARES EXPOSIÇÃO CABOCLOS DA AMAZÔNIA:
CABOCLOS DA AMAZÔNIA: ARQUITETURA, DESIGN E MÚSICA
Texto de Carlos Alcantarino, organizador da exposição
“Nascido e criado em Belém do Pará, o céu, a mata, os rios, a atmosfera regional e cultural, para mim tudo era absolutamente normal e corriqueiro. Anos se passaram, radicado no Rio de Janeiro, trabalhando como designer e atuando em algumas frentes relacionadas às artes, volta e meia voltava a Belém. O olhar mudou. Navegando pelos furos na ilha do Combu, me dei conta de que aquele cenário era de uma exuberância única, e aquelas simples casas pareciam ter nascido naqueles locais. Parece pouco? Não é.
Ficava imaginando projetos de renomados arquitetos, e cada vez mais essa arquitetura invisível e pura do caboclo me parecia a melhor alternativa para acompanhar a floresta, protagonista da cena. Iniciei uma pesquisa, viajei pelo Marajó fotografando vilas de pescadores e centros urbanos, entrei nessas casas e deparei com uma explosão de cores. É interessante essa completa dissociação da arquitetura e decoração com o restante do país, onde o minimalismo e as cores neutras predominam. Percebi que poderia agregar nessa busca outras expressões artísticas dessa região, com o mesmo conceito original, desvinculado de qualquer tendência vigente – como as letras abertas que denominam os barcos amazônicos, um legado que muitas vezes passa de pai para filho, criando intuitivamente uma identidade gráfica.
Os objetos nascem não apenas pela necessidade do seu uso, como canoas e redes, mas muitas vezes com um pensamento involuntariamente lúdico, cuja função é apenas transmitir a magia desse povo, como por exemplo uma banca de ervas e garrafas no mercado Ver-o-Peso que resulta em uma bela instalação sensorial.
Finalmente, a música local é a trilha sonora desse conjunto denominado cultura amazônica, embalando e contagiando com personalidade ímpar. Nossa proposta é apresentar uma amostra desse universo, oriundo do mais puro sentimento caboclo.”
Como resultado da exposição, foi produzido um catálogo que inclui textos contribuídos por conceituados autores, sendo a apresentação assinada pela renomada jornalista Adélia Borges, que detém o título de Doutora Honoris Causa concedido pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
TEXTO DE ABERTURA DA EXPOSIÇÃO
Texto de Adélia Borges
“A Amazônia é internacionalmente conhecida por suas riquezas naturais. O que poucos conhecem são as riquezas construídas pelas mulheres e pelos homens que a habitam. Esta exposição desvenda o universo da arquitetura e do design elaborados na Amazônia, mostrando que as criações locais atendem com muita inteligência as funções a que se destinam e são totalmente adaptadas ao território em que se inserem. Ao contrário de agredir a natureza, convivem harmonicamente com ela.
Mas elas vão muito além. Não basta que as casas sejam erguidas sobre palafitas para enfrentar bem a subida das águas e descida das águas ou que os objetos utilizem com sabedoria as matérias-primas do território. Em tudo se vê um vocabulário formal incrível. Tudo é exuberante e superlativo. Não há monotonia. Em oposição a um mundo que fica cada vez mais homogêneo, igual e monótono, aqui se vê uma diversidade de cores e grafismos a expressar o desejo de beleza e a expressão individual de cada morador. As cercas que delimitam o privado do público são vazadas para propiciar a necessária ventilação em ambientes de alta umidade do ar, sendo portanto uma solução coletiva adaptada ao meio. Mas cada uma tem a sua identidade própria, em grafismos que parecem nunca se repetir. Os interiores das residências poderiam estar em revistas de arquitetura e decoração, se elas se abrissem para a expressão popular, tal a personalidade dos ambientes que combinam sem constrangimento diferentes estampas e materiais, dos plásticos à toalhinha de crochê, e sempre com muitas, muuuuiiiiitas cores.
O organizador desta surpreendente e valiosa exposição reúne condições ideais para a tarefa que empreendeu. Carlos Alcantarino nasceu no Pará e portanto enxerga desde “dentro” a realidade que aborda. Ao mesmo tempo, soma o olhar “de fora”, pois há 40 anos foi para o Rio de Janeiro, onde construiu uma carreira nacional e internacional solidamente reconhecida. Tem, portanto, repertório mais do que suficiente para navegar nessas águas.Alcantarino se cercou de outras pessoas que também nutrem um olhar experiente e amoroso em relação à região, a exemplo da designer Fernanda Martins, que fez a seleção dos letreiros dos barcos, ampliando o acesso à sua pesquisa sobre os “abridores de letras”, como são conhecidos os pintores de barcos, e trazendo três deles para a frente da cena, garantindo seu protagonismo. Os objetos vernaculares como o carrinho de raspa-raspa e as garrafadas de ervas, as fotos mostrando a diversidade das embarcações artesanais e os objetos carregados de significado espiritual ofertados por ocasião do Círio, entre outros, compõem um conjunto muito estimulante, e tudo isso embalado pela música da região, igualmente diversa e vibrante.
Ao trazer à luz esses múltiplos inventários, esta exposição vai incentivar que esse rico patrimônio seja respeitado e valorizado por todos aqueles que querem um futuro melhor, em que o fazer humano não só não entre em choque com a natureza, mas também celebre com formas e cores a alegria de estarmos vivos.”
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